Quem é Marta Barbosa Stephens? Sou várias. Jornalista, mãe de dois filhos, aprendiz de jardineira e escritora de ficção são algumas de mim. Tenho dois livros lançados – a coletânea de contos Voo luminoso de alma sonhadora e o romance Desamores da portuguesa – e um terceiro que estará nas livrarias em alguns dias, As viúvas passam bem.

Quais são os cinco livros da sua vida? Tenho mais de cinco, mas resumirei aqui essa lista. Começo por Osman Lins, Nove, Novena (1966), um grande livro que deveria ser mais idolatrado e foi tema do meu mestrado em literatura na PUC-SP. Depois cito Rayuela, o segundo romance de Julio Cortázar, escrito em Paris em 1963. Com esse livro aprendi sobre a subjetividade do leitor e tantas outras coisas. Li pela primeira quando morava em Barcelona onde, de certa forma, experimentei uma vida literária e apaixonada como Horacio Oliveira e Maga. Sigo com Stoner (1965), Jonh William. Confesso que me apaixonei pelo personagem William Stoner e, vez ou outra, ele ressurge em meus livros. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, Clarice Lispector (publicado em 1943), tirou meus pés do chão. Nunca mais fui a mesma. Nunca mais parei de reler esse e outros de Clarice. E não posso deixar fora dessa lista Machado de Assis, o maior de todos na literatura brasileira. Lembro de um ano, não muito tempo atrás, que passei relendo tudo dele. Não há um livro de Machado que não goste, mas para essa lista escolho Memórias póstumas de Brás Cubas (de 1881).

Qual livro gostaria de ter escrito? French braid, de Anne Tyler (2022). Anne Tyler é uma das minhas autoras favoritas vivas (junto a Micheliny Verunschk, Elena Ferrante, Annie Ernaux). Ela escreveu muitos livros. French braid é o número 24 e é uma obra-prima. Essa autora americana não se rende aos modismos. Seus livros são lentos. Não são o que costumam dizer por aí “um soco a cada página” ou nada do gênero. É como se você leitor fosse descortinando histórias de seres humanos reais, anti-heróis e heróis na mesma encarnação, muito lentamente. A narrativa de Anne é envolvente. Costumo sonhar com seus personagens, acordo aflita para continuar a leitura, quando não estou lendo, me pergunto como eles estarão. Já li vários de Anne Tyler, todos têm o mesmo efeito em mim. French braid desvela a história de uma família e seus desencontros. Não há um grande drama ou uma tragédia avassaladora. É sobre como o tempo e os desejos individuais podem aproximar e afastar as pessoas, mesmo aquelas “atadas” como uma trança.

Qual livro ainda quer escrever? Quero escrever um livro, possivelmente um romance, sobre a velhice. Esse é um tema que tem me interessado, sobre o qual tenho pesquisado e, na verdade, até já comecei a escrever umas linhas. Espero que o livro ganhe corpo.

Por que você escreve? Escrever é uma das poucas atividades que sempre tive certeza que queria exercer, desde a adolescência. Acho que escrevo porque é isso que sei fazer. E sigo aprendendo. Agora se você me pergunta por que escrevo livros, respondo que por obsessão. Fico obcecada pelas minhas personagens, as vejo no transporte público ou na porta da escola dos meus filhos. Não há outra opção se não contar suas histórias.

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