Conto: Viagem à Bolívia

carna

Por Julio Dominguez *

O ato de pensar é, e sempre lhe será gratuito. Pobre rapaz que ouvia um carnavalito. Sequer sabia o que era um carnavalito… Mas como é isso? Gratuito como a constante paisagem da janela. Depois que aceitou ser ele o único que ouvia aquele ritmo musical, aquelas cordas vibrando no interior do cérebro, tornou-se um prisioneiro do pensar; a reflexão seria inevitável.

Por incrível que pareça, está história aconteceu com um rapaz a caminho duma entrevista de emprego. Achamos que tudo começou quando ele precisava de ajuda para descer num certo ponto da cidade que não tinha conhecimento e muito menos familiaridade de como chegar. Disse ao cobrador do ônibus, poderia me avisar quando chegarmos aquela rua? Sim, claro. Até aqui nada de estranho, a não ser pelo fato dele ter voltado a perguntar levando à mão direita à orelha. O quê, ele disse. Sim, claro, repetiu o cobrador que depois virou o rosto e falou alguma graça ao motorista. Ambos riram e o rapaz sentou-se, como senta uma criança de cinco anos, num dos bancos. Está mais do que claro, para o rapaz, que a importância que se dá a certas situações decorre da perplexidade que se obtêm delas.

Eu lhe ajudo moço, não se preocupe, disse uma mulher. Eu sei como é quando não se conhece bem os caminhos. De qualquer forma já estamos perto do seu destino.

A mulher sorria, e como não parava de pentear os cabelos com os dedos, passava a certeza de que desejava continuar o diálogo com algum tipo de conversa. O rapaz limitou-se apenas a agradecer ainda sob o incógnito efeito das risadas do cobrador o do motorista. Ela ainda sorri, ainda passa os dedos pelos cabelos, deve estar tentando quebrar o gelo educado que separa aos desconhecidos. Por instantes o balanço do ônibus pareceu-lhe mais agitado. Pareceu-lhes, diria, pois a mulher com o sorriso preso no rosto disse que a partir daqui as ruas são todas esburacadas. Um pouco de emoção, não?

Não é uma sensação maravilhosa? Não estou falando dos buracos, mas de subir num ônibus sem saber para onde nos estão levando. Para qualquer zona da cidade. A zona norte da cidade tem uma cara diferente da zona sul…

E era verdade. Observava pela janela a imensidão cinza dos prédios que continuavam a se estender desde que perdeu a noção da onde se encontrava.

Parece uma aquarela só com tons de cinza, não?

Talvez, mas ainda não encontrara razão para abrir a boca e emitir frase a respeito disso. Reservadíssimo, poderia falar-lhe um pouco do que refletiu desde que o ônibus se embrenhou por ruas desconhecidas, do fato de que visitar bairros distantes era como ser turista dentro da própria cidade que se vive. Cada lugar difere do outro, tem seus próprios códigos, suas próprias paletas de cor. Mas ele resumiu tudo e disse que é, sim, uma sensação boa. É como se perder, mas com segurança.

Acho que a melhor ideia não é a de perder-se, apesar de que tem algum sentido isso que tu dizes, mas eu prefiro pensar que estou me encontrando.

Estou indo a uma entrevista de emprego e preciso descer o mais próximo possível do lugar. Assim, também, tenho uma noção de tempo caso eu passe na entrevista e tenha que vir para cá todos os dias da semana.

Que tipo de trabalho? Não, melhor não me fales nada. Não que eu queira adivinhar no que vais trabalhar, há tempos que eu trabalho para mim mesma e é melhor coisa que eu pude fazer da vida. Existem certos trabalhos que acabam brutalizando as pessoas, brutalizando as relações. Espero que não acabes caindo num desses.

O rapaz olhou para a janela. O cinza continua a se estender e continuará por algumas quadras a mais até que a mulher disse que seria melhor se levantar. Estamos perto do lugar. Boa sorte na entrevista.

O obrigado foi apenas com o olhar.

Com os pés na calçada o calor é diferente. O ar não tem janelas para circular, ele todo está quente. Se é que entendeu, aquilo que a mulher sentenciou, é valido o que ele disse ao vento: Devo estar começando a me brutalizar. Dobrando a esquina alcançou a ver a mulher que descia do ônibus. Parece apressada, deve fugir do calor. Que tipos de talento ela possui se apenas trabalha para si e com isso sobrevive? Será que ela queria refletir sobre quem estaria autorizado a nos dizer se temos ou não certos talentos para seguir nossos próprios caminhos? Muita presunção falar que trabalha para si mesma levantando o nariz, em rebite. Talento: uma coisa inata, pensou o rapaz perdendo a mulher de vista. Talento: reconhece-se apenas nos outros.

Ele desceu do ônibus, não? E agora? Como continua a ficção? Cadê a parte que ele começa a perceber que está ouvindo a música martelar na cabeça? Certas prioridades devem ser tomadas em conta, para o bem da ficção. A primeira delas é a continuidade. Mesmo que com este comentário esteja-se jogando pelos ares esta lei. Uma história deve ser sem baques, sem fugir de seu tema principal, do horizonte ficcional que acabara de criar.

A cena de mulher, apressada, dobrando a esquina, combina com o perfil aquilino do entrevistador. Cabelos escuros, gravata bem ajustada. Ele vira as páginas do currículo do rapaz. Não há muitas páginas, na realidade duas. Que o entrevistador procure mais informações pessoais no verso das páginas é apenas uma questão de hábito. Quem sabe busca algo que o surpreenda. Se quiser saber mais alguma coisa terá de perguntar ao rapaz, mas antes oferece-lhe um café.

Não, muito obrigado.

Sentados um frente ao outro, sem café para intermediar – opção do rapaz. Podemos começar então com as perguntas – opção do entrevistador.

Ele foi sincero. Disse que não estava surpreso por aquelas duas páginas da sua vida. Tampouco se trata de algo impressionante a se encontrar; essa é um mal necessário que vem crescendo dia após dia. O mais importante que cabe a cada um que se apresenta são dois itens que acabo considerando fundamentais. Confesso que sempre procuro nas entrelinhas de qualquer pessoa com as que acabo me comunicando… Inclusive no verso destas folhas. A primeira delas é uma visão estratégica do seu futuro particular e, a segunda delas, dentro desta visão estratégica, um espaço que indique particularmente a possibilidade de subserviência à empresa. De uma forma mais direta e prática: funcionários motivados pela esperança e focados nas suas obrigações, como já deve saber não tem preço.

O entrevistador dobrou as folhas do currículo e as guardou na gaveta. Quem sabe numa próxima. De praxe, alargou um sorriso. O rapaz sorriu também, agradeceu pelo tempo e pelas considerações e acrescentou que, depois de toda essa baboseira de explicação à queima-roupa, literalmente, havia ficado um pouco atordoado e que, agora sim, aceitaria um café. Sem açúcar, por favor.

Às vezes a educação, travestida de terno e gravata, não está preparada para ser levada pela mão por caminhos improvisados. Claro, disse o entrevistador sem entender por que mantinha o sorriso de praxe na cara. Logo ele apareceu com uma xícara nas mãos.

O arroubo, o ímpeto, é marca registrada da juventude de alguns. Com o café dando voltas dentro das bochechas, pensou em cuspi-lo todo na cara daquele homem. Manchar aquele terno com saliva e café. Mas quando estava prestes a deixar fugir o esguicho pela boca, ouviu o som agudo de uma flauta que subia pela janela. Mais tarde iria comentar o sucesso com a mãe e deter-se em alguns detalhes como o estranho zinido provocado no ouvido esquerdo, acompanhado por uma também estranha compressão do lado esquerdo do rosto. Por isso teve que engolir o café. Realmente estava amargo, lembrou que havia pedido sem açúcar. O entrevistador ainda mantinha o sorriso colado no rosto.

La fora, dobrando a esquina, contra uma luz solar de verão, quem sabe ainda encontre a silhueta apressada da mulher. Quem sabe ela more por perto. Mas ele quer encontrar naquela esquina ensolarada a origem daquele som. Aquela flauta de som agudo que mais adiante descobrirá seu nome, suas funções e seus ritmos. No momento, o som se desvanece ali mesmo, naquela esquina, para reduzir-se em sussurro de lembrança. Pois, então, sem sucesso retorna a casa pensando no que irá dizer à mãe. Mas ele não consegue pensar noutra coisa que não seja o esporro que ela irá distribuir por toda a sala da casa, mesmo que ele não tenha mais idade para receber esse tipo de considerações. Na realidade ela lhe diz, depois de se servir um café e sentar à mesa, que tem que se esforçar mais. Compreendo que na atualidade a adolescência e toda a parafernália que a acompanha tenha se esticado um pouco mais para dentro dos anos, mas a responsabilidade continua a mesma. Depois de tomar um gole: ou seja, cada dia mais exigente. Não é isso uma ironia, meu filho?

A sensação de amortecimento dada a um corpo cansado preocupa ao rapaz. Ele não a sente. O quarto está bem escuro, sequer uma nesga de luz proveniente da rua entra para aclarar que existem várias teorias a respeito da insônia; a mais literária delas e também a mais usada é a de que uma consciência limpa e leve é a única a ter direitos sobre o universo do sono. Neste estágio não adianta contar ovelhas. Não adianta forçar os olhos a se manterem cerrados. Cansa demais, provoca agonia e perpetua uma ânsia pelo sono. Melhor é manter, rapaz, os olhos abertos que logo acabaram por se acostumar com a escuridão. Os olhos irão se acostumar ao fato de pertencer a um ser com a consciência não tão limpa como se acreditava ter. Uma hora o sono chegará e ele sempre chega logo após a freada dum carro, o latido dum cão e o rádio-relógio marcando às três da manhã. Mas o que acorda o rapaz, a exatos três e um minuto da manhã, é aquele som. Claro que no meio da madrugada e por respeito aos outros que conseguem dormir, o som é mais baixo no volume. Digamos um pouco mais abafado, descrevam-no com o ritmo um pouco mais quebrado; imaginemo-lo entrecortado, como se àquele que a executa lhe faltasse o ar necessário para completar a partitura. Lá fora, de novo, a freada dum carro, o latido dum cão. Só falta o rapaz confirmar o horário no rádio-relógio para declarar oficialmente o sono e, ainda mais lucrativo, oficialmente dentro dum sonho.

Eis que a flauta e o seu som agudo retornam com um pouco mais de força. Suficiente para mim. É agora que resolvo este mistério. Tem como vir o som de uma gaveta? Não. Tem como, debaixo da cama? Talvez, tenha espaço suficiente para alguém se esconder ali, mas depois de uma olhadinha medrosa vais ver que não tem ninguém, a não ser o par de chinelos e uma meia perdida. O quarto é grande, resta o roupeiro.

Vai lá, abre a porta do roupeiro. A cada passo, o som um pouco mais alto. Como narrador deste relato anuncio que devo começar a me despedir até uma próxima cena. Existem coisas que são melhor apreciadas pelos olhos de quem realmente tem o conhecimento dos fatos. Aquele que realmente tem alguma coisa a dizer. Não precisas parar, nem hesitar em abrir a porta. Está confirmada, a música vem lá de dentro. Levanta uns edredons e afasta umas camisas penduradas nos cabides. Lá no fundo, a tua espera, está sentado um músico boliviano tocando a sua sikus.

Sou um amigo, digo-te, pois amigos se reconhecem sem problemas. Não adianta ascenderes a luz do quarto. Nenhuma luz, a não ser a de uma vela, conseguirá delinear uma fisionomia sem idade e nenhum olhar. Apenas o teu me reconhecerá sem reticências. Que fique claro, apenas como detalhe necessário, que levo um poncho e um chapéu de palha todo desfiado pelo tempo.

Sabes muito bem que o caminho é escuro. Estamos somente iluminados pelo luar e pela noite estrelada. Se tivesses vindo aqui muito antes, teríamos problemas para que teus olhos se acostumem com a escuridão. Muito provavelmente a agitação do corpo seria uma impossibilidade para o que vou te mostrar. Mas primeiro subamos a montanha escarpada. Aconselho aquela outra ribeira seca. Antes, aqui, passava um rio. A vista é melhor, tem um desfiladeiro profundo e lá debaixo o povoado da onde venho. Cuidado com os pés, acho que podes notar que o caminho é acidentado e feito de rochas calcárias.

Mas porque devemos subir? O que há lá encima que queres me mostrar?

Se a maioria das perguntas tivessem respostas diretas, a tempos, desde um princípio, deverias de ter perguntado porque só tu escutas a minha sikus. Esta daqui. Eu me perguntei quando estava subindo a montanha para te esperar. Por que só ele escuta a minha sikus? Uma manhã cinzenta acordamos em casa com medo que a chuva fora de época inundasse o leito do rio seco e acabasse afogando a todos no povoado. A minha mulher disse que devíamos correr para a cidade antes que as chuvas viessem com força e se levassem tudo. Deveríamos aproveitar e mudar-nos de vez, dar um lugar melhor para as crianças, disse. Já passamos por isso antes, já perdemos tudo uma vez, não precisamos passar por tudo isso de novo. Não a culpo. Ela está certa, o medo que ela sente, é um medo correto. Mas quando vi um casal de condores voarem para o alto da montanha, pensei com alegria que não haveria chuva alguma. Eles não procriam quando chove, sabem que podem perder seus filhotes. Talvez, se confiássemos mais na natureza conseguiríamos ouvi-la e ela nos diria quando a chuva iria vir.

Então? O que foi que tu fizeste? Apesar de me descreveres a atitude da tua esposa e o sentimento de medo generalizado, ainda não consigo entender o porquê de estar me contando isto e o porquê deste sonho ridículo no meio das montanhas. Estou de pijamas e não sinto frio. O chão, realmente, é de pedras calcárias e esse desfiladeiro profundo é realmente belo, mas, ainda assim, não entendo o porquê de estar aqui.

Eu me fiz a pergunta certa. E a fiz na hora certa. Depois que as pessoas do povoado começaram a se reunir, levando cadeiras, televisores, camas e colchões para as poucas caminhonetes que se disponibilizaram para isso, eu decidi que não iriamos a lugar nenhum. Falei a minha mulher que vi o casal condor subir a montanha. Seria sem sentido se começasse a chover agora. Ela disse que eu estava maluco, que ela não arriscaria a vida dos filhos e que não voltaria a passar por tudo aquilo que já passamos. Acaso não se aprende com os erros? Que se os pássaros quisessem arriscar a vida deles, problema lá dos penudos. Amanhã voltam as caminhonetes. Ela ainda está lá com nossos filhos. Temos um casal, uma menina e um menino. A carinha de susto deles não é de se esquecer. Metade do povoado já se mandou mais ao sul…

O caminho é acidentado, mas ainda vale a pena. Venha, estamos quase chegando no topo. Antes que amanheça, vou te mostrar como funciona a Sukis.

Sentemos nesta pedra.

Vê-se melhor daqui o altiplano. Para lá o deserto.

Esta aqui é a sikus. Instrumento milenar, hein. Ela tem duas partes. Uma parte superior, que a chamamos de arca. Como podes ver tem sete tubos. Por trás tem esta parte inferior, com seis tubos; chamamos de ira. O lado direito, com estes três tubos mais grossos, produz notas mais graves, ondulações mais profundas. Como aquela fenda escura que parece chegar no centro da terra. O lado esquerdo produz as notas agudas. O voo dos pássaros, o sol do altiplano, o pico da montanha nevada.

Tome, experimente. Toque.

É normal errar no início. A correta posição é encostar cada tudo no lábio inferior, na parte central. Não pressiones com força. Assim não sai som nenhum. Coloca apenas encostando, apenitas.

Quando acordares deste sonho, lembrarás perfeitamente deste som.

Olha, lá. O sol está despontando no amanhecer. Antes de subir aqui e te esperar vi a mulher arrumando as coisas, pronta para se mudar. Ela não quer ficar mais lá. Nem ela nem os filhos. Esperam que os acompanhe, por isso ela ainda está lá, no povoado, me esperando. Toquei uma melodia com a sikus na frente de casa. Ela pediu para eu parar. Confessou-me que há algum tempo não escuta mais a minha música.

Todo sonho acaba repentinamente. O sonho do rapaz assim também acabou. Trouxe-lhe algumas perguntas, mas preferiu não responde-las. Abriu os olhos devagar para ver se a luz que se infiltrava por debaixo da porta não apagava as lembranças do sonho. É uma tentação entender os símbolos profundos de uma narração onírica, então, ele quer apenas seguir sonhando. As imagens que a seguir lhe vem à mente são fruto da imaginação, daquilo que poderia ser a continuação do sonho. Quem sabe se trate de uma resposta aquilo que o velho amigo ia lhe mostrar. Vê-se, então, descendo a montanha com o amigo, chegando ao povoado que se prepara nervosamente para abandonar tudo. Algumas casas vazias, algumas galinhas pulando das janelas. A mulher o espera na porta da casa. O casal de filhos segurando da saia colorida da mulher. A casa é de pedras, o telhado é de palha. Eles se abraçam. Ele diz que irá com eles. O rapaz vê o amigo entrar na casa e sair com as suas roupas. O que ele está fazendo, vai de acordo com aquilo que no topo da montanha havia anunciado?

Não adianta nem fechar a porta, o amigo diz. A chuva, quando chegar, vai levar tudo. Voltaremos, quem sabe um dia para reconstruir.

Nessa mesma manhã o céu amanhecera nublado. O rapaz deveria continuar com a busca de emprego, afinal de contas um dia a adolescência irá acabar, como a sua mãe diz. Juntos, o rapaz e a mãe tomam o café da manhã num silêncio atordoante. O rapaz pensa, na realidade, que está juntando as suas roupas numa mochila. Saindo de casa em direção a rodoviária. Ele irá pegar o primeiro ônibus em direção à Bolívia. Consegue associar as paisagens do sonho com aquelas que verá nascer da janela. Demorará, quem sabe, pois ele tem pouco experiência em viagens, uns cinco dias de estrada, mas quando chegar lá, aquele amigo o estará esperando. Provavelmente não na cidade, mas no topo da montanha. Que era o lugar que queria mostrar-lhe. Terá de subir pelo leito do rio seco e enfrentar o caminho acidentado de rocha calcária. O desfiladeiro a um lado, realmente profundo, é de uma beleza perigosa durante o dia. Bem melhor do que pelas noites, onde apenas vê-se um cintilar de luzes provenientes do povoado. O caminho é íngreme, mas vale a pena enfrentar o penhasco escarpado. Logo será meio dia e o céu e a terra irão se unir numa luminosidade só. A melodia de uma sikus invade a sua mente. Vem do outro lado daquela pedra. Estamos perto do topo. Dá-se para ver, realmente, o altiplano se expandindo e para o outro lado o deserto todo num tom laranja. Quando chega perto da pedra não há nada, apenas mais pedras. Num céu extremamente azul, um casal de condores.

Do lado da margarina está a faca de cortar pão. Na mesa tem café recém passado.

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Julio Dominguez (1982) é formado em Teoria da Literatura pela PUC-RS. Trabalha como tradutor. Reside em Porto Alegre