Por Alexandre Staut *

A maioria dos fãs da cantora e compositora Marina Lima sabe que o seu irmão, o poeta e ensaísta Antônio Cícero, sempre a inspirou, em canções que se tornaram clássicas, como “Virgem”, “Acontecimentos” e “Fullgás”. Poucos sabem que a leitura de romances e a literatura de modo geral são uma constante na sua vida, desde muito cedo, quando o irmão lia Shakespeare em voz alta, em casa. Nesta entrevista, Marina fala pela primeira vez sobre suas referências literárias. Boa leitura.

Qual literatura sempre te inspirou? Eu sempre gostei de romances, desde oito, nove anos, quando comecei a ler. Sempre optava por romances e até hoje quando um livro me pega na maioria das vezes é um romance.

Consegue identificar na sua obra (letra e música) algum autor em especial? Consigo. Drummond. A secura do Nordeste, leia-se João Cabral. Na música, Lenin McCarthy, Kurt Cobain. De imediato é o que me vem.

Como foi o seu contato com poesia? Foi por meio do Cícero? Foi através do meu irmão, sim. Até antes de ele compor comigo, ele me lia poemas. Poemas latinos, poemas ingleses, Shakespeare. Ele lia muito em voz alta pra mim. Então, foi através dele com certeza. Depois, eu descobri Drummond, Cabral, Goulart, outros poetas brasileiros. Há pouco tempo, há uns oito anos, li a obra de Cecília Meireles e foi um baque. Vejo no meu disco “Climax” uma influência dela.

E o seu livro de memórias (Maneira de ser), poderia falar sobre a escrita da obra? Primeiro queria fazer uma confissão. Acho que faço tudo melhor com certeza com pressão de prazo, de tempo. Mas escrevo principalmente sobre situações cotidianas que me inspiram. Também sobre lembranças que tenho, que foram importantes para moldar a minha personalidade. Acho que faço espécies de crônicas, pequenos ensaios. Não saberia fazer um livro de ficção. E procuro escrever sobre o que possa ser relevante para os outros também.

Quais autores hoje fazem a sua cabeça hoje? Tem alguns autores, como Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Drummond, que são recorrentes para mim. Eles permeiam a minha vida. Mas, no momento, estou lendo um livro de contos da Alice Munro, Amiga de juventude, que estou gostando muito. Os dois últimos romances que li e que me impressionaram também são O museu da inocência, de Orhan Pamuk, passado na Turquia, e um livro muito curioso, da Inês Pedrosa, Fazes-me falta.

Se pudesse convidar um escritor para um café, um bate-papo, quem seria? Fiquei na dúvida: poderia ser o Drummond. Que prazer seria passar uma tarde com Drummond de Andrade, podendo usufruir da sua elegância. Ou Pessoa, mas acho que ele teria medo de mim. Talvez não fosse bom pra ele. (risos)

Na sua obra, qual a canção, o momento que mais têm a ver com literatura? A verdade é que a literatura permeia a minha obra, seja através do Cicero, quando compúnhamos muito e convivia diretamente com o universo literário dele, seja através da minha fome de leitura. Isso incluindo poesia, ensaios e romances. Eu acho que de alguma forma sempre está presente, nem que seja apenas numa citação.

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