* Por Daniel Manzoni-de-Almeida *

Eu quero ter náuseas nas lembranças…

Escrevo esse texto no mês e ano que completo 40 anos, e esse número me fez parar, seriamente, para pensar e me agarrar em lembranças. Uma tentativa de organizar a vida, por um número de idade que marca o tempo, e não deixar perder nenhuma passagem do meu tempo já vivido. Uma tentativa de constituir a rede do tempo, individual e que me liga aos outros, e tece o que chamamos de memória. Um sonho me desperta uma lembrança, boa ou perturbadora; olhar uma paisagem me desperta outra. Em mim, em um dia qualquer do início desse ano, lembrei de um sabor, próximo ao da baunilha, que sentia no leite de soja que minha mãe me dava na primeira infância, com algumas gotas de baunilha para disfarçar o sabor, quando houve suspeita de intolerância à lactose que não se completou diagnóstico. Eu tive uma náusea no supermercado quando vi a caixa de leite de vaca, e hoje realmente tenho intolerância à lactose. Eu senti uma saudade imensa da minha mãe… Afinal, esse tecido da memória está dentro de nós, individualmente, ou se espraia no exterior tomando a materialidade e constituindo o real?

Eu recorro a literatura para me ajudar a pensar sobre. Em primeiro, a uma releitura, do livro “A paixão segundo G.H.” da escritora Clarice Lispector que li aos 17 anos enquanto estudante do colégio, atual ensino médio, que inconscientemente e sem explicação lógica se impôs ferozmente enquanto eu pensava sobre esse tema. Em “A paixão segundo G.H.”, Clarice Lispector narra a história de G.H., uma mulher de vida normal classe média, que mora em um apartamento no Rio de Janeiro e que, em um dia ordinário qualquer, se lança a visitar o quarto vazio da empregada que partira. Nessa viagem dentro desse cômodo misterioso do apartamento, G.H. tem uma experiência transcendental e passa a questionar toda sua a existência ao se deparar com uma barata que anda na porta do armário: “(…) o que sempre me repugnara em baratas é que elas eram obsoletas e, no entanto, atuais. Saber que elas já estavam na Terra, e iguais a hoje, antes mesmo que tivessem aparecido os primeiros dinossauros, saber que o primeiro homem surgido já as havia encontrado proliferadas e se arrastando vivas, saber que elas haviam testemunhado a formação das grandes jazidas de petróleo e o carvão do mundo, e lá estavam durante o grande avanço e depois do grande recuo das geleiras – a resistência pacífica. (…) E que, mesmo depois de pisadas, descomprimiam-se lentamente e continuavam a andar (…) (Lispector, 1964, p. 47). Diante dessa descrição, eu não consigo deixar de fazer uma interpretação de que Lispector pode ter usado o recurso da imagem e quase pré-histórico da barata para remeter à essência da memória. Explico melhor. A imagem da barata como um símbolo da memória. Seres antigos, enigmáticos, que sobrevivem a situações ambientais inesperadas, que rondam à espreita de nossos ambientes, que podem trazer medos e repulsas. A barata ali é como a memória materializada passeando no quarto vazio. G.H., mobilizando nela o emaranhado de lembranças que a constitui. Apavorada com o animal milenar, acaba por matá-la prensada na porta do armário. Então, G.H. não se dá por satisfeita e termina por degustar o cadáver morto da barata. Tal cena faz uma fusão entre o presente do questionamento de G.H. e a memória em forma de matéria de barata. É dessa forma que Clarice Lispector via G.H., e nos mostra como somos feitos de paixão pela matéria da memória ao ponto de nos horrorizar com sua presença e ao mesmo tempo querer comê-la, integrá-la dentro de nós novamente, mesmo que seja repugnante e asquerosa. Quem nunca teve essa sensação de se assustar com alguma lembrança antiga, questioná-la e querer prová-la (ou talvez revivê-la)?

Minha perseguição pela substância da memória se deparou com o livro “Vivre Vitte” de Brigitte Giraud que ganhou o prêmio Goncourt 2022 na França. O livro de Giraud se apresentou diante de mim na estante, em destaque na livraria Dialogue em Brest, com o título que remete “viver muito rápido” que me hipnotizou, como um canto de sereia, quando ao ler a sinopse e me deparar com outra imagem literária de um corpo ocupando um espaço e que provocava ali uma reflexão sobre a memória: uma casa.

Em “Vivre Vitte” Giraud traz a memória a partir de sua história pessoal. O casal, ao comprar a tão sonhada casa, se vê diante de uma tragédia imensa: a morte do esposo em um fatídico acidente de moto três dias antes da mudança. A casa vira, então, uma grande personagem amada e odiada do romance de Giraud para investigar sobre sua existência e resistência. “(…) Eu estou me fazendo um questionamento final, antes de fechar definitivamente a porta. Porque a casa está no coração do que causou o acidente” (Giraud, 2022, p.19) (tradução minha). Giraud parte com perguntas-estruturas em “Se isso não tivesse acontecido”, “Se não tivesse feito isso”, “Se ele não tivesse feito isso” para reconstruir as memórias e construir a explicação do luto da história. Do ponto de vista da existência como a casa teve participação no azar ou destino ou determinismo do ocorrido. Como aquela casa traz a ligação entre pessoas da família, amigos e fatos. Como aquela casa e aquela situação desperta para pensar como a especulação imobiliária e as políticas econômicas podem influenciar nos dias e horas de cada sujeito. Do ponto de vista da resistência como a autora passou pelo luto e conseguiu escrever a obra. Narrado em forma de lembranças na tentativa de entender o acontecido, o romance de Giraud nos leva a um espiral de como as memórias são importantes em um movimento investigativo de nos reconstituir o real para entender um presente e quiçá um pensar um futuro. Como nossas decisões, escolhas, laços criados, relações e submersão em sistemas políticos e econômicos podem ser matéria para a constituição de fatos e memórias que Giraud coloca em um jogo narrativo que nos afeta com a pergunta se nossa existência é fruto do acaso da consequência do bater de asas de uma borboleta do outro lado do mundo ou de um destino terrivelmente escrito.

Nesse caminho, eu encontrei Brigitte Giraud em fevereiro de 2023 na Livraria Dialogue na cidade de Brest na França.

Brigitte Giraud e “Vivre Vitte”

Como a literatura pode ser uma forma de terapia? Não creio que a literatura possa ser uma forma de terapia. Ela nos permite, no entanto, recuperar uma voz que tem sido mais frequentemente confiscada. Porque o luto é uma experiência de dominação. Dominação pelo evento com o qual não se concorda (o acidente), dominação pelos diferentes relatos e comentários que são feitos sobre o mesmo (o hospital, o necrotério, o funeral, o padre, a família…), tantas palavras que parecem estar muito longe da verdade e do que se sente. Você está sujeito à realidade, à violência da realidade e aos comentários que afirmam versões questionáveis, escandalosas, enganosas, fantasiosas, diluídas. Escrever é recuperar a vantagem, dominar (ou ter a ilusão de dominar) pelo menos uma coisa, a linguagem. Escrever é reapropriar-se, através da linguagem, através da construção da história, através da escolha das palavras, uma história que você não escolheu viver, mas que é parte integrante de sua existência. Eu não acredito na terapia da escrita. Quando você está no fundo de seu buraco, parece-me impossível escrever. Escrever requer muita energia e uma certa dose de discernimento. Quer dizer, para escrever uma peça de literatura. Quando eu estava no meio de um acidente, eu só conseguia escrever um diário, ou estava escrevendo. Anotar em um diário não é o mesmo que escrever um livro de literatura. Mas, ao escrever, ao construir um livro, uma forma, escrever permite fazer conexões. “Vivre vite” me permitiu entender que estamos todos conectados, história íntima e história coletiva.

Como uma experiência pessoal e única pode ser importante para se pensar uma experiência coletiva e compartilhada? Escrever sobre o íntimo só é interessante para mim porque está ligado ao coletivo. Em “Vivre vite”, estou conduzindo uma investigação, uma investigação íntima, mas também uma investigação sociológica, histórica e política. Coloco a questão do destino, do acaso e do determinismo. Um acidente é “o que acontece por acaso”, como mostra a etimologia da palavra. O que significaria que não há nenhum significado. Mas eu tento encontrar significado apesar de tudo, tento entender o incompreensível. Para fazer isso, preciso encontrar parceiros cuja história irá iluminar a minha, acompanhá-la, dar-lhe um significado e um lugar no mundo. Para questionar os lugares, os tempos, a tecnologia, o liberalismo, a globalização, a ascensão social, a gentrificação, etc… Só se pode ser um número em estatísticas, o acaso não é suficiente. “Vivre vite” é também um livro que questiona o luto. Existem diferentes tipos de luto? O luto coletivo causado por eventos que têm um significado com respeito à história (guerras, bombardeios, ataques, etc.) pode ser vivenciado em um compartilhamento coletivo, com julgamentos, comemorações, etc., enquanto o luto individual, causado por um acidente estúpido, refere-se à solidão e à ausência de um lugar no mundo e na sociedade. A escrita nos permite mudar isso e encontrar parceiros (rainha Astrid, Tadao Baba, Stephen King, Paco Rabanne, Emile Guimet, etc.) Por outro lado, o que me interessa na escrita é a exatidão, tornando visível o invisível, trazendo à tona paradoxos e verdades que ninguém quer ver ou ouvir. Quanto mais me aprofundo na experiência íntima e pessoal, mais ela ressoa com a de outros que não foram capazes de expressá-la, que se sentiram culpados por sentir isto ou aquilo.

Seu livro “Vivre vite” é sobre memória. Como a memória e a literatura estão ligadas na construção de uma realidade? A memória é o único solo da literatura, ou pelo menos seu solo essencial. Mas me parece que a memória está inscrita no corpo, no cérebro, sem que o escritor tenha consciência disso. A memória é também o que falta, é também a ausência, e principalmente a necessidade de encontrar o que não existe mais para testá-la, confrontá-la, compreendê-la. Não é a memória que existe antes de escrever, mas, no meu caso, é a escrita que faz a memória surgir. É um sentimento de falta, de questionamento, de insatisfação, de medo, de mal-estar, de exaltação, que me faz escrever, e ao encenar a realidade, real ou reinventada, é a escrita que cava e traz à tona o que eu não lembro mais. Por exemplo, a cena do capítulo: se eu tivesse telefonado para Claude na noite de 21 de junho ao invés de ouvir Hélène me contar sobre seu novo caso amoroso, dramatiza um simples fato que eu havia me lembrado: eu havia esquecido de telefonar. A escrita me permite entender por que não telefonei. A memória se desdobra, se torna mais clara e intensa. Se eu não tivesse escrito, eu não teria trazido à tona todas estas realidades. A escrita permite trazer à tona e organizar os pensamentos, ordenar uma cronologia, uma relação entre causa e efeito.

O que liga a “barata” em Lispector e a “casa” em Giraud? Em ambos os livros que recorri para entender os processos de literatura e memória, identifico que surgem dois personagens centrais que representam o epicentro de como a memória pode ser materializada. Em Lispector, é a figura da barata; em Giraud, é a da casa. Em ambos são personagens ambíguos, que despertam amor e ódio por caminhos diferentes. E nesse processo de investigação algo fica claro: a memória se materializa no nosso exterior, corre fugitiva e incomoda pela porta de um armário velho despertando o pior de nós ou em forma de uma casa, estática, cheia de ligações e relações, passado e presente, que permanecerá ali, imponente a nos lembrar de tudo. Em ambas figuras da memória é materializada e nos confronta que só nos resta conviver e compartilhar nosso espaço com elas. Em ambas situações há um luto. Um luto da partida de duas formas diferentes, a ausência de alguém, do outro. A barata, a casa, é apenas o que resta do outro que partiu. É o que nos resta dos outros. É o que nos é destinado pela memória. O que resta dos outros nas suas imagens de memórias? Assim, como muitos outros objetos a nossa volta: tudo muito cheio de outros, tudo muito cheio das nossas paixões provocando algo entre um enjoou e uma saudade imensa.

Daniel Manzoni-de-Almeida é escritor e doutor em teoria literária.  Université Bretagne Occidental, Brest, França. Contato: danielmanzoni@gmail.com

 Versão em francês

 La maison et les cafards : un jeu de mémoire et de littérature

J’ai envie d’avoir la nausée devant les souvenirs….

J’écris ce texte au cours du mois de février à l’aube de mes 40 ans. Ce chiffre m’a permis sérieusement de réfléchir et de m’accrocher à mes souvenirs.

Une tentative d’organiser ma vie, par un numéro d’âge qui marque le temps, et  ne laisse perdre aucun passage du temps déjà vécu. Une tentative de constituer le réseau du temps, individuel et connecté par rapport aux autres et de tisser ce que nous appelons la mémoire.

Un rêve réveille un souvenir, bon ou inquiétant ; regarder un paysage réveille un autre. En moi, un jour donné de cette année, je me suis souvenu d’un goût proche de la vanille que je ressentais dans le lait de soja que ma mère me donnait dans ma petite enfance, avec quelques gouttes de vanille pour masquer le goût. Cela parce qu’il y avait un soupçon d’intolérance au lactose dont le diagnostic n’avait pas été mené à son terme. J’ai eu la nausée au supermarché en voyant la boîte de lait de vache alors qu’aujourd’hui je souffre réellement d’intolérance au lactose. J’ai ressenti une immense nostalgie pour ma mère. Après tout, ce tissu de mémoire est-il à l’intérieur de nous, individuellement, ou se diffuse-t-il à l’extérieur en se matérialisant et en constituant le réel ?

Je me tourne vers la littérature pour m’aider à y réfléchir. D’abord à la relecture du livre “A paixão segundo G.H.”[1] de l’écrivain Clarice Lispector (1920-1977) que j’ai lu à l’âge de 17 ans alors que j’étais lycéen et qui, inconsciemment et sans explication logique, s’est imposé avec force alors que je réfléchissais à ce sujet.

Dans “A paixão segundo G.H.”, Clarice Lispector raconte l’histoire de G.H., une femme de la classe moyenne vivant dans un appartement à Rio de Janeiro et qui, un jour ordinaire, se rend dans la chambre vide de la femme de chambre qui est partie. Au cours de ce voyage dans cette pièce mystérieuse de l’appartement, G.H. fait une expérience transcendantale et commence à remettre en question toute son existence, lorsqu’elle rencontre un cafard qui marche sur la porte de l’armoire : “(…) ce qui m’avait toujours répugné chez les cafards, c’est qu’ils étaient obsolètes et pourtant d’actualité. Savoir qu’ils étaient déjà sur Terre, et comme aujourd’hui, avant même l’apparition des premiers dinosaures, savoir que le premier homme apparu les avait déjà trouvés proliférants, rampants et vivants, savoir qu’ils avaient assisté à la formation des grands gisements de pétrole et de charbon du monde, et qu’ils étaient là au cours de la grande avancée et après le grand recul des glaciers – la résistance pacifique. (…) Et que, même piétinés, ils se décompressaient lentement et continuaient à avancer (…) (Lispector, 1964, p. 47). Face à cette description, je ne peux m’empêcher de faire une interprétation selon laquelle Lispector aurait utilisé la ressource de l’image et de l’image presque préhistorique du cafard pour se référer à l’essence de la mémoire.

Je m’explique : L’image du cafard comme symbole de la mémoire. Des êtres anciens, énigmatiques, qui survivent à des situations environnementales inattendues, qui rôdent à l’affût dans nos environnements, qui peuvent susciter la peur et la répulsion. Le cafard est comme un souvenir matérialisé qui erre dans la pièce vide. G.H., mobilisant en elle l’enchevêtrement des souvenirs qui la constituent. Terrifiée par l’animal millénaire, elle finit par le tuer en le pressant contre la porte de l’armoire. Puis, G.H. n’est pas satisfaite et finit par goûter le cadavre du cafard. Une telle scène opère une fusion entre le présent du questionnement de G.H. et le souvenir sous la forme de la matière du cafard.

C’est ainsi que Clarice Lispector, à travers G.H., nous montre comment nous sommes faits de passion pour la matière de la mémoire au point d’être horrifiés par sa présence et en même temps de vouloir la manger, l’intégrer à nouveau en nous, même si c’est dégoûtant et répugnant. Qui n’a jamais eu ce sentiment d’être effrayé par un vieux souvenir, de l’interroger et de vouloir le goûter (ou peut-être le revivre) ?

Ma quête de la substance de la mémoire est tombée sur le livre “Vivre Vite” de Brigitte Giraud qui a obtenu le prix Goncourt 2022 en France. Le livre de Giraud s’est présenté à moi sur l’étagère, bien en vue dans la librairie Dialogue à Brest, avec un titre faisant référence à “vivre vite” qui m’a envoûté, comme un chant de sirène, lorsque j’ai lu le synopsis et que je suis tombé sur une autre image littéraire d’un corps occupant un espace et qui a provoqué là une réflexion sur la mémoire : une maison.

Dans “Vivre Vite”, Giraud fait appel au souvenir de son histoire personnelle. Alors que le couple achète la maison de ses rêves, l’écrivaine est confrontée à une immense tragédie : la mort de son mari dans un accident mortel de moto trois jours avant le déménagement. La maison devient alors un grand personnage aimé et détesté dans le roman de Giraud pour enquêter sur son existence et sa résistance. “(…) Je fais une dernière fois le tour de la question, comme on fait le tour du propriétaire, avant de fermer définitivement la porte. Parce que la maison est au cœur de ce qui a provoqué l’accident” (Giraud, 2022, p.19). Giraud part dans des questions structurées avec «Si cela n’était pas arrivé”, “Si cela je n’avais pas fait”, “Si cela il n’avait pas fait” pour reconstruire les souvenirs et construire l’explication du chagrin de l’histoire.

Du point de vue de l’existence :

  • Comment la maison a-t-elle joué un rôle dans la malchance, le destin ou le déterminisme de ce qui s’est passé ?
  • Comment cette maison crée des liens entre les membres de la famille, les amis et les faits. ?
  • Comment cette maison et cette situation nous incitent à réfléchir à la manière dont la spéculation immobilière et les politiques économiques peuvent influencer les jours et les heures de chaque sujet. ?

Du point de vue de la résistance :

  • Comment l’auteure a traversé le deuil et a réussi à écrire l’œuvre. Raconté sous forme de souvenirs pour tenter de comprendre ce qui s’est passé, le roman de Giraud nous entraîne dans une spirale de l’importance des souvenirs dans un mouvement d’investigation, de reconstitution du réel pour comprendre un présent et peut-être penser un avenir.
  • Comment nos décisions, nos choix, les liens créés, les relations et l’immersion dans les systèmes politiques et économiques peuvent être matière à constitution de faits et de souvenirs que Giraud met en scène dans un jeu narratif qui nous affecte en nous demandant si notre existence est le fruit du hasard, la conséquence du battement d’ailes d’un papillon venu du bout du monde ou d’un destin terriblement écrit ?

Sur ce chemin, j’ai rencontré Brigitte Giraud en février 2023 à la librairie Dialogue dans la ville de Brest en France.

Daniel : En quoi la littérature peut-elle être une forme de thérapie ?

Brigitte : Je ne pense pas que la littérature puisse être une forme de thérapie. Elle permet malgré tout de reprendre une parole qui le plus souvent a été confisquée. Parce que le deuil est une expérience de domination. Domination par l’événement avec lequel on n’est pas d’accord (l’accident), domination par les différents récits et commentaires qui en sont faits (l’hôpital, la morgue, les obsèques, le prêtre, la famille…), autant de paroles qui semblent très éloignées de la vérité et de ce que vous ressentez. On est soumis au réel, à la violence du réel, et aux commentaires qui assènent des versions discutables, scandaleuses, mensongères, fantasmées, édulcorées. Ecrire c’est reprendre le dessus, c’est maîtriser (ou avoir l’illusion de maîtriser) au moins une chose, le langage. Ecrire c’est se réapproprier, par la langue, par la construction du récit, par le choix des mots, une histoire qu’on n’a pas choisi de vivre, mais qui fait partie intégrante de votre existence.

Je ne crois pas à l’écriture thérapie. Quand on est au fond tu trou, il me semble qu’il est impossible d’écrire. Écrire demande une grande énergie, et une certaine clairvoyance. Je veux dire, écrire un texte de littérature. Quand j’étais en plein fracas, je n’étais capable d’écrire qu’un journal intime, ou je notais. Notais n’est pas la même chose qu’écrire.

Mais en écrivant, en construisant un livre, une forme, l’écriture permet de faire des liens. Vivre vite m’a permis de comprendre que nous sommes tous reliés, histoire intime et histoire collective.

Daniel : Comment une expérience personnelle et unique peut-elle être importante pour penser à une expérience collective et partagée ?

Brigitte : L’écriture de l’intime ne m’intéresse que parce qu’elle est reliée au collectif. Dans Vivre vite, je mène une enquête, intime mais aussi sociologique, historique, politique. Je pose la question du destin, du hasard, et du déterminisme. Un accident est “ce qui tombe par hasard”, comme le montre l’étymologie du mot. Ce qui voudrait dire qu’il n’y a pas de sens. Or j’essaie de trouver du sens malgré tout, j’essaie de comprendre l’incompréhensible. Pour cela, il me faut trouver des partenaires, dont l’histoire va éclairer la mienne, va l’accompagner, lui donner du sens, et une place dans le monde. Interroger les lieux, l’époque, la technologie, le libéralisme, la mondialisation, l’ascension sociale, la gentrification, etc… On ne peut être qu’un chiffre dans des statistiques, le hasard n’est pas une donnée suffisante. Vivre vite est aussi un livre qui questionne le deuil. Y a-t-il différentes sortes de deuil ? Les deuils collectifs provoqués par des événements qui ont un sens vis à vis de l’Histoire (guerres, bombardements, attentats,…) peuvent être vécus dans un partage collectif, avec procès, commémorations, etc… alors qu’un deuil individuel, provoqué par un accident idiot renvoie à la solitude et à l’absence de place dans le monde et dans la société. L’écriture permet de modifier cela et de trouver des partenaires (la Reine Astrid, Tadao Baba, Stephen King, Paco Rabanne, Emile Guimet, etc…)

D’autre part, ce qui m’intéresse dans l’écriture est la justesse, c’est rendre visible l’invisible, faire émerger des paradoxes, et des vérités, que personne ne veut voir ou entendre. Plus je creuse l’expérience intime et personnelle, plus elle résonne avec celle des autres qui n’ont pas pu l’exprimer, qui se sont sentis coupables de ressentir ceci ou cela.

Daniel : Votre livre “Vivre vite” parle de la mémoire. Comment la mémoire et la littérature sont-elles liées dans la construction d’une réalité ?

Brigitte : La mémoire est l’unique terreau de la littérature, ou en tout cas son terreau essentiel. Mais il me semble que la mémoire est inscrite dans le corps, dans le cerveau, sans que l’écrivain en ait conscience. La mémoire, c’est aussi ce qui manque, c’est aussi l’absence, et principalement de besoin de retrouver ce qui n’est plus pour le mettre à l’épreuve, le confronter, le comprendre. Ce n’est pas la mémoire qui existe avant l’écriture, mais dans mon cas, c’est l’écriture qui fait surgir la mémoire. C’est une sensation de manque, de questionnement, d’insatisfaction, de peur, de malaise, d’exaltation, qui me fait écrire, et en mettant en scène la réalité, réelle ou réinventée, c’est l’écriture qui creuse et fait émerger ce dont je n’avais plus la mémoire.

Par exemple, la scène du chapitre : Si j’avais téléphoné à Claude le 21 juin au soir au lieu d’écouter Hélène me raconter sa nouvelle histoire d’amour, met en scène un simple fait que j’avais en mémoire : j’avais omis de téléphoner. L’écriture me permet de comprendre pourquoi je n’ai pas téléphoné. La mémoire se déplie alors, se précise, s’intensifie. Si je n’avais pas écrit, je n’aurais pas fait émerger toutes ces réalités. L’écriture permet de faire émerger, et d’organiser la pensée, d’ordonner une chronologie, un rapport de cause à effet.

Qu’est-ce qui relie le “cafard” de Lispector et la “maison” de Giraud ?

Dans les deux livres vers lesquels je me suis tournée pour comprendre les processus de la littérature et de la mémoire, j’identifie deux personnages centraux qui représentent l’épicentre de la matérialisation de la mémoire. Chez Lispector, c’est la figure du cafard ; chez Giraud, c’est celle de la maison. Dans les deux cas, il s’agit de personnages ambigus, qui suscitent l’amour et la haine par des voies différentes. Et dans ce processus d’investigation, quelque chose devient clair : la mémoire se matérialise dans notre extérieur, elle court fugitive et inquiétante à travers la porte d’une vieille armoire réveillant le pire en nous ou sous la forme d’une maison, statique, pleine de connexions et de relations, passées et présentes, qui restera là, s’imposant pour nous rappeler de tout. Dans les deux cas, la mémoire se matérialise et nous confronte au fait que nous ne pouvons vivre et partager notre espace qu’avec elle. Dans les deux situations, il y a un deuil. Le deuil du départ de deux formes différentes, l’absence de quelqu’un, de l’autre. Le cafard, la maison, n’est que ce qui reste de l’autre qui est parti. C’est ce qui nous reste des autres. C’est ce qui nous est destiné par la mémoire. Que reste-t-il des autres dans vos images de souvenirs ? Comme beaucoup d’autres objets qui nous entourent : trop pleins d’autres, trop pleins de nos passions qui provoquent quelque chose entre la nausée et l’immense désir.

[1]La passion selon G.H.” Traduit du brésilien par Claude Farny. https://www.desfemmes.fr/litterature/la-passion-selon-gh/

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Daniel Manzoni-de-Almeida – écrivain et docteur en théorie littéraire. Université Bretagne Occidentale, Brest, France.

Contact: danielmanzoni@gmail.com

Relecture et corrections : Hervé Jacolot – Enseignant FLE (français langue étrangère) d’Association Brestoise pour l’Alphabétisation et l’Apprentissage du Français pour les Etrangers (ABAAFE)

 

 

 

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